IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 94

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
FernandoAntôniodaSilvaAlves
Para haver uma codependência, é necessário que já haja um
viciado definido. O outro responde a esse comportamento, tornando-
se codependente do vício de seu parceiro, no momento em que
não pode e não quer largá-lo. Geralmente esse tipo de relação está
vinculado a tipos de personalidade, em que a pessoa com um perfil
de codependência gosta de viver em função dos outros. Assim, não
raro se presencia na crônica policial casos de mulheres agredidas
que frequentam as delegacias especializadas, narrando casos de
agressão iniciados pela tentativa incessante da parceira de afastar
seu companheiro do vício. Entretanto, era possível observar nessas
narrativas que carências são definidas pela impossibilidade da parceira
de firmar uma autoconfiança sem necessitar do outro. As vítimas,
nesses casos, não deixam de se colocar na condição de vítimas, mas,
ao mesmo tempo, procuram auxílio policial tão somente para que
os agentes públicos chamados deem conselhos para seu parceiro,
ao invés da aplicação direta da lei por meio da instauração de um
procedimento formal. O círculo vicioso da codependência completa-
se, portanto, a partir do registro da comunicação (e posterior recuo
das comunicantes) de casos de agressão pelas vítimas agredidas,
que são, em sua maioria, também codependentes.
Anthony Giddens (1993) procura estabelecer a diferença entre
codependência e relacionamento fixado, dizendo que, neste último,
diferente da codependência, em que o vício de um dos parceiros
acaba por ser compartilhado pelo outro durante o desenvolvimento
de uma relação, após o início do relacionamento afetivo ou familiar,
diferentemente, num relacionamento fixado o próprio relacionamento é
objeto do vício. Nesse tipo de relação, o vício não é construído combase
no vício de um sobre o outro, mas sim sobre o próprio relacionamento,
em que ambos os parceiros já se encontram viciados, pois a própria
relação se torna viciada em torno de uma dependência compulsiva. O
relacionamento torna-se fixado em torno de uma obrigação perante a
rotina que deixa ambos os parceiros dependentes. Eles simplesmente
não conseguem parar de se relacionar, não porque constatem que
ainda subsistem os vínculos de afeto anteriores, fundamentais para
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