IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 104

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
FernandoAntôniodaSilvaAlves
da espécie. O hedonismo emMarcuse é a via para a libertação da libido
dos esquemas de dominação familiar e laboral, mas, nesse sentido,
a mulher encontra-se mais do que escravizada dentro dos limites da
repressão sexual, pois como mãe ou trabalhadora ela não pode sentir
prazer. Enquanto que a mulher é fadada a conter sua sexualidade,
a inibir seu prazer por conta da dominação familiar e econômica, o
homem, numa acepção freudiana, exerce o seu narcisismo numa
sociedade que violenta cada vez mais as suas mulheres.
Nos termos em que se estabelece a crítica de Marcuse a Freud,
podemos entender que o crime sexual é oriundo da repressão da
libido em uma sociedade conservadora, onde, por um lado, a mulher
é levada pelas estruturas dessa própria sociedade a se privar do
prazer, enquanto que o homem o exerce por meio de um referencial
narcísico. O narcisismo para Freud, na sociedade moderna, equivalia
a uma espécie de “realidade alternativa” (GIDDENS, 1993, p. 183). O
narcisismo é uma defesa, uma adaptação do ego ao mundo exterior,
por meio de um afastamento desse mundo, em termos de certa
transcendência. O ego narcísico concentra sua energia libidinal na
forma de uma centralização na sexualidade genital que é típica dos
homens, educados desde meninos a cultuar o falo, o órgão sexual
masculino, excitando-o e exortando-o dentro da cultura masculina da
virilidade que já foi observada neste escrito, a partir do pensamento
de Bourdieu.
As mulheres, em particular, são as principais atingidas,
historicamente, pela “tirania genital” apontada na crítica de Marcuse
a Freud (Giddens, 1993). Para Marcuse, Freud não conseguiu
compreender que centralizar a sexualidade na genitália masculina
despojou outras partes do corpo de sua sexualidade, adequando-o
ao trabalho industrial deserotizado; uma vez que o falo pode ser
exercitado no momento próprio, na intimidade do lar, enquanto que o
restante do corpo não, pois trabalha na fábrica. Marcuse propõe dessa
forma uma ressexualização do corpo, por meio de uma revolução
nos costumes sexuais em que o florescimento da libido se desse em
termos não repressivos. Para isso, a cooperação prazerosa baseada
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