IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 103

(RE) PENSANDO DIREITO
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DOMINAÇÃOMASCULINAEVIOLÊNCIADEGÊNERONOSÉCULOXXI:
atenção particular à sexualidade de crianças e adolescentes. Reich
foi extremamente criticado pela sociedade e instituições tradicionais
de sua época, especialmente pela Igreja, uma vez que ele propunha
exatamente o rompimento da couraça repressiva instituída pela
moderna sociedade burguesa desde o século XIX, como analisara
Foucault. Em síntese, Reich propôs trazer de volta o sexo para o
debate público.
Não obstante, é preciso salientar que o pensamento de Reich
destoa substancialmente da metodologia de Freud, uma vez que o
primeiro estimulava muito mais a prática de atos do que a análise fria e
racional dos discursos sobre a sexualidade. O sexo retorna ao debate
por meio da liberação da energia sexual, de uma “organoterapia”
baseada na promoção da expressão sexual através do orgasmo. A
masturbação, por exemplo, não seria mais um tabu, algo proibido
ou não recomendado para os mais jovens, mas sim algo estimulado.
Pessoas mais bem resolvidas sexualmente (principalmente homens,
no que tange aos casos de violência) seriam pessoas menos
propensas ao crime, à dominação, ao menos nos termos violentos
e milenares como seu deu a subjugação da mulher durante séculos
e séculos. O controle de si parte de um controle do corpo, e esse
corpo é sexualmente reconhecido como sexuado. A igualdade sexual
viria de corpos livres na expressão de suas particularidades. Reich
defendia uma sociedade sexual, mas sem dominação.
Sexualidade sim, dominação não. Seria possível? Para Marcuse,
o debate sobre a sexualidade entre homens e mulheres ganha novos
contornos, na civilização moderna, uma vez que, analisando o instinto
de morte como limite do instinto de prazer na obra de Freud, Marcuse
compreende que a disciplina econômica na sociedade capitalista e
industrial é marcada por uma repressão sexual fora da medida, seja
em termos de organização da família monogâmica-patriarcal, seja
em termos da divisão de trabalho (apud Giddens, 1993). O trabalho
moderno é deserotizado porque a disciplina da fábrica impede a
emancipação por meio do prazer; assim como na família monogâmica
a finalidade principal não é a obtenção do prazer, mas sim a reprodução
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