IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 86

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
FernandoAntôniodaSilvaAlves
inferior à dos homens, quando aceitas e integradas na fábrica, no
processo de divisão do trabalho. A função simbólica do corpo viril do
macho em contraposição ao corpo frágil da fêmea ocupa cada vez
proeminência nos esquemas de dominação de gênero desenvolvidos
em diversas sociedades no decorrer dos séculos.
A violência simbólica do homem contra a mulher antecede ou
mesmo prescinde da violência física. É uma violência que advém
do reconhecimento dos dominantes pelos dominados, que leva à
sujeição e até mesmo a certo autodesprezo ou autodepreciação
(BORDIEU, 2005). É uma violência que se dá não pelo emprego da
força propriamente dita, mas sim pela adesão, pelo conformismo
daquele que se sujeita a ser dominado, tendendo a ver a dominação
como uma relação natural. Para Bourdieu, é uma violência que se
manifesta de forma invisível, doce, a partir do desdobramento de um
processo de dominação.
A dominação masculina surge no contexto da violência simbólica
como um modo de pensamento, típico de uma construção social
dos papéis de cada gênero, a partir de uma construção corporal do
homem e da mulher (BOURDIEU, 2005). Os corpos são construídos
socialmente por meio de uma linguagem baseada em esquemas de
diferenciação, valendo-se de um sistema de oposições que vai desde
as diferenças físicas e biológicas até as diversas funções que um
ou outro pode exercer. Essa diferença pode lidar com as seguintes
alternativas: alto ou baixo, em cima ou em baixo, seco ou úmido, duro
ou mole, dentro ou fora, claro ou escuro etc. Nesse sentido, dizer que o
homem está em cima ou por baixo no ato sexual, assim como traduzir
o coito como fora ou dentro, equivale a dizer que a diferenciação de
gêneros é encontrada a partir de uma suposta titularidade de posições
que podem ser galvanizadas pela ordem social, na construção ideal
dos corpos masculino e feminino.
A partir da diferenciação dos corpos entre homem e mulher,
a ordem social funda-se como ordem masculina, ratificando um
esquema de dominação a partir da divisão do trabalho. O mundo
social, segundo a teoria de Bordieu (2005, p. 18), é composto de
1...,76,77,78,79,80,81,82,83,84,85 87,88,89,90,91,92,93,94,95,96,...292
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