IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 186

184
Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
Carlos JoséPereiraKruber
à categoria de sinais distintivos e de privilégios de classes. O “direito
ao ar puro” significa a perda do ar puro como bem natural, ou a sua
passagem ao estatuto de mercadoria e a sua redistribuição social
desigualitária?
138
A primeira metade do século XX, sobretudo após o início da 1ª
Guerra, marcou uma revolução incomparável no pensamento europeu.
Essa foi a época em que a Modernidade sofreu uma divisão: surge
uma “nova” modernidade, que afastou o “ser”, deixando os homens
sem pontos de referência e colocando-os à deriva num mar infinito de
“devir”. Dessa maneira, viver no mundo tornou-se escandalosamente
temporário, não só sujeito a mudança, mas também sem normas
ou raízes. A Grande Guerra fez tremer os alicerces da vida e do
pensamento europeu. A Guerra provou, para Freud, a natureza
primitiva do homem. Carl Jung afirmou que a guerra destruíra a fé do
homem no seu valor e na organização racional do mundo e o fizera
voltar-se de novo para si próprio
139
.
A guerra era o momento existencial em que o homem se debatia
com a realidade, fértil em morte, violência e dor. Assim, a revolução
que se operou pode ser vista dos seguintes modos: a) movimento de
um conjunto de crenças e modelos para outro; b) emergência de novas
respostas perturbadoras para as questões perenes; c) a passagem do
“ser” ao “devir”
140
.
Baumer explica que o homem tornou-se um ser problemático, e
não apenas bom, mau, ou indiferente, como antes se discutia. Dessa
maneira, o universo tornou-se misterioso, difícil de compreender ou
decifrar e a natureza tornou-se longínqua
141
.
A geração que cresceu durante a guerra decidira que tudo
necessitava ser reavaliado e estava determinada a viver “agora ou
nunca” e sabia que tinha que conviver com a incerteza. Baumer fala
em três palavras constantes na literatura existencial do período: o
138
Ibid.,
p. 62-63.
139 BAUMER, Franklin L.
O pensamento europeu moderno. Volume II:
Séculos XIX e XX. Tradução de Maria Manuela Alberty. 7. ed.
Rio de Janeiro, 1977, p. 167-174.
140
Ibid.,
p. 175.
141
Ibid.,
p. 175.
1...,176,177,178,179,180,181,182,183,184,185 187,188,189,190,191,192,193,194,195,196,...292
Powered by FlippingBook