IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 196

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
Carlos JoséPereiraKruber
Assim, quanto à violência, num primeiro plano, mais visível,
podemos nos deparar com seus sinais mais evidentes, de
contornos “subjetivos”, que podem ir do espectro que engloba
desde a criminalidade propriamente dita até os confrontos
internacionais. Importa, sobretudo, perceber os contornos
antecedentes que engendram esse quadro. Será possível então
refletirmos e nos darmos conta, por exemplo, da violência que
subjaz os mesmos esforços que visam a combatê-la e, por
exemplo, promover a tolerância?
180
.
Nessa arte, a tolerância, segundo Passetti, é uma prática que
protege o corpo social, um gesto que modifica um ato ou intenção
de resolver a sociedade como um todo. “Ela é a sentença de um
julgamento que reforma o indivíduo perigoso, e que no limite mata”
181
.
Com isso, criam-se expectativas de que um indivíduo útil, dócil e
disposto a ser convocado a participar, colabore para aperfeiçoar os
dispositivos de tolerância.
Dessa forma, a segregação molda a sociedade e a existência
do indivíduo, e isso o Brasil sabe bem como demonstrar. Segundo
Gloeckner e Amaral, “sendo o capital, representante do acúmulo de
gozo, e o prazer, a maneira pelo qual o movimento para a morte pode
ser regulado pelo sujeito”
182
. Aduz ainda que
[...] há no Brasil uma apropriação do gozo por parte de pequena
elite insensível à distribuição que promove. Condensa-se o capital
do gozo da nação nesses pontos privilegiados. Inflacionando-se
exponencialmente ainda mais esse poder, o efeito ricochete de
disseminação da violência, de alguma maneira, não tarda a cobrar
a fatura. De fato, o que se formam são verdadeiros muros – vide a
decisão da prefeitura do Rio de Janeiro, com o apoio do governo
do Estado, em 2009, de cercamento “com fins ambientais” de 11
favelas cariocas com muros de mais de três metros de altura
183
.
Ainda assim, estar no outro lado do muro é mais uma fantasia de
nossas mentes, pois quando controlamos quem queremos por perto,
estamos controlando nossos medos, nossas ansiedades e nossos
180 GLOECKNER, Ricardo Jacobsen; AMARAL, Augusto Jobim do.
Criminologia e(m) crítica.,
p. 153.
181 PASSETTI, Edson. Uma apresentação: a tolerância e o intempestivo. In: ______; OLIVEIRA, Salete (org.).
A tolerância e o
intempestivo.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2005, p. 14.
182
Ibid.,
p. 157.
183
Ibid.,
p. 157.
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