IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 192

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
Carlos JoséPereiraKruber
aproveitáveis. Em contrapartida, se teria vantagem em tentar cuidar
deste imperativo, para escapar à inquietação, ao sofrimento. Há
indivíduos que não chegam a estar à altura dessas obrigações e
vão encontrar refúgio nas drogas ou nas seitas, ou em formas de
conduta de automutilação; b) volta-se a reconhecer a legitimidade de
pertencer a algo, de dependências múltiplas, que não são construídas
pelo indivíduo. Não existe apenas um ponto de ligação; c) o que se
transforma é na verdade a exigência da cidadania, o que não pode
ser simplesmente pensada. É, sobretudo, algo da ordem de uma
capacidade de participar na mudança social, que é não só constitutiva
da estabilidade do conjunto da sociedade, mas também da estabilidade
da identidade e da liberdade individual
163
.
Nesse sentido, Gilberto Velho explica que “as noções de prestígio
e ascensão social estão vinculadas a diferentes formas de viver e lidar
com a questão da individualidade na sociedade contemporânea”
164
,
fazendo parte de um processo mais amplo de construção social da
identidade. A questão é que a construção dessa identidade é um
problema universal da sociedade que busca definir e/ou classificar
pessoas em categorias sociais, sejam famílias, clãs, linhagens,
classes, grupos de status etc.
O fato de um indivíduo pertencer a um grupo social étnico
ou religioso, coloca-o como parte de uma categoria social que,
dependendo do contexto, poderá ser valorizada ou ser objeto de
discriminação ou estigmatização
165
; ou seja, “as categorias podem ser
reconhecidas pelos seus membros como autênticas ou poderão ser
tomadas como acusações ou rótulos estigmatizantes”
166
.
Erving Goffman
167
compreende que o estigma gera profundo
163
Ibid.,
p. 47-49.
164 VELHO, Gilberto.
Individualismo e cultura:
notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 1997, p. 45.
165 ELBERT, CarlosAlberto.
Novo manual básico de criminologia.
Tradução de Ney Fayet Júnior. PortoAlegre: Livraria doAdvogado,
2009, p. 35. O estigma é uma marca oficial, que antes era gravado a fogo nas costas ou no rosto de escravos ou sujeitos que
cometiam certas ações. Nossos estigmas, hoje, parecem menos severos, mas nem por isso são menos eficazes para discriminar e
segregar.
166 VELHO, Gilberto.
Individualismo e cultura:
notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 2ª.ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 1997, p. 46.
167 GOFFMAN, Erving.
Estigma:
notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Tradução de Marcia Bandeira de Mello
Leite Nunes. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988, p. 13.
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