IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 180

178
Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
Carlos JoséPereiraKruber
DO BEM-ESTAR AO MAL-ESTAR INTERIOR SOCIAL:
ALGUNS ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS.
As sociedades modernas consomem diversidade, celebram a
diferença, que absorve e saneia prontamente, todavia selecionam
quemquerempor perto, excluindo pessoas difíceis e classes perigosas,
contra as quais busca construir as mais elaboradas defesas, não
apenas em torno das pessoas de dentro e de fora do grupo, mas na
população como um todo.
Criam-se fronteiras, ilhas de exclusão, nos quais uma minoria
permanentemente despossuída vê a cidadania, no sentido mais amplo
de uma igualdade social e política, como direito, mas não como uma
posição a ser conquistada.
Para Hannah Arendt, o triunfo do mundo moderno sempre foi
relacionado com a emancipação do trabalho, isto é, ao fato de que “o
animal laborans foi admitido no domínio público e, no entanto, enquanto
o animal laborans continuar de posse dele, não poderá existir um
verdadeiro domínio público, mas apenas atividades privadas exibidas
à luz do dia”
119
. O resultado, é aquilo que eufemisticamente é chamado
de cultura de massas, arraigado ao problema de uma infelicidade
universal: de um lado, o problemático equilíbrio entre o trabalho e o
consumo e, de outro, a demanda de trabalho e a obtenção de uma
felicidade que só pode ser alcançada se atingir um alto acúmulo de
trabalho. Dessa forma, a demanda de felicidade e a infelicidade são
alguns dos sintomas de que já começamos a viver em uma sociedade
de trabalho que não tem suficiente trabalho para mantê-lo contente.
Quanto mais fácil se tornar a vida em uma sociedade de
consumidores ou de trabalhadores, mais difícil será preservar a
consciência das exigências da real necessidade de cada indivíduo.
O perigo é que tal sociedade não reconheça a futilidade de uma vida
que não se fixa nem se realiza em assunto algum seja permanente
120
.
Dessa forma, é possível perceber que nossa época é marcada por
uma grande desestruturação das culturas de classe. Já não existem
119 ARENDT, Hannah.
A condição humana
. Tradução de Roberto Raposo. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 166.
120
Ibid
., p. 167.
1...,170,171,172,173,174,175,176,177,178,179 181,182,183,184,185,186,187,188,189,190,...292
Powered by FlippingBook