IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 194

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
Carlos JoséPereiraKruber
Nesse sentido, o interesse pela diferenciação chega a ser grande
o suficiente para produzi-la na prática, mesmo onde não haja nenhum
motivo objetivo para isso, ou seja, é como se cada individualidade
sentisse seu significado tão somente em contraposição com os outros,
a ponto de essa contraposição ser criada de forma artificialmente onde
antes não existia
173
.
OS LIMITES ENTRE O CENTRO E A MARGEM
É interessante enfatizar a existência de uma noção de segurança
pública que é definida autoritária e arbitrariamente e de cuja elaboração
efetivamente não participa a maioria esmagadora dos segmentos e
indivíduos de nossa sociedade.Afragilidade dos poderes do Legislativo
e Judiciário e a exacerbação do poder dos chamados órgãos de
segurança expressam, a nível nacional, as dificuldades cotidianas
do indivíduo. Não só a posição de classe agrava esse quadro, mas
outras variáveis, como a cor e o sexo, são decisivas para caracterizar
a desigualdade. O fato importante não é apenas o desencontro entre
pátria e a lei, mas as próprias crenças disseminadas de que a diferença
e as desigualdades são fatos consumados
174
.
Tem-se, então, uma sociedade que cresce com um
desenvolvimento capitalista acompanhado de forte processo de
urbanização e industrialização. Há grande circulação dentro do
país através de migrações, deslocando populações entre áreas
culturalmente muito distintas
175
.
Na prática, ainda se remete ao Estado o controle da vida e se
aceita sua tutela e eventuais arbitrariedades. A dificuldade consiste
na inexistência de uma ordem moral realmente compartilhada pela
sociedade nos seus diferentes segmentos. Nesse sentido, a violência
não pode ser vista como uma praga pairando sobre a sociedade. A
violência existe ao nível das relações sociais e é parte constituinte da
própria natureza da sociedade, cujo universo de representações não
só expressa como produz a desigualdade e a diferença. A exploração
173
Ibid.,
p. 47.
174 VELHO, Gilberto.
Individualismo e cultura:
notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 1997, p. 145.
175
Ibid.,
p. 146.
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