IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 183

(RE) PENSANDO DIREITO
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(RE)PENSARNODIREITOÉ: (RE)PENSARNASOCIEDADE,NO INDIVÍDUO,NO INDIVIDUALISMO,NASALVAÇÃO,NOCONTROLEENTREOCENTROEAMARGEM
técnicos, burocráticos, industriais, capitalista e individualista corrói
internamente a civilização, que essa mesma conjunção produziu e
desenvolveu. O inverso negativo das benesses das quais continuamos
a desfrutar não cessou de crescer. Os males de nossa civilização são
exatamente os que fizeram surgir o inverso da individualização, da
tecnicização, da monetarização, do desenvolvimento, do bem-estar
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.
Nesse sentido, um mal-estar interior parasita o bem-estar exterior.
Para aqueles que desfrutam da elevação do nível de vida, ela termina
por ser compensada pela redução da qualidade de vida. O mal-estar é
difuso e vivido diversamente. Os problemas da juventude e da velhice
revelam-se de forma intensificada. Tome-se, como exemplo, o mal das
periferias, localizado de maneira topográfica, sociológica, geracional,
nos adolescentes. Esses desenvolvem-se em uma esfera exterior
ao universo considerado “normal” e para isso precisam de soluções
específicas. Entretanto, o que o adolescente das periferias vive
constitui-se na expressão local, periférica, de margem e paroxística
de um mal geral difuso: a decomposição generalizada do laço social.
A desintegração da família conduziu essa situação ao extremo e,
para ele, somente o bando ou a gangue restabelecem uma forma de
solidariedade, mais fechada – muitas vezes – agressiva, se comparada
com a do exterior, de centro.
OS ESPAÇOS E OS NOVOS DIREITOS.
Qualquer um que se possa dar ao luxo
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adquire para si uma
residência num condomínio “planejado” como um eremitério,
fisicamente dentro, mas social e espiritualmente fora da cidade.
Supõe-se que comunidades fechadas sejam mundos separados. Seus
anúncios propõem ummodo de vida total, que poderia representar uma
alternativa à qualidade de vida oferecida pela cidade e seus espaços
públicos deteriorados. Uma das características mais salientes dos
condomínios é o seu isolamento e distância da cidade. Isolamento
significa a separação daqueles considerados socialmente inferiores.
129 MORIN, Edgar.
A via:
para o futuro da humanidade. Tradução de Edgar de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco. Rio de Janeiro:
Bertrand,, 2013, p. 67-68.
130 Lipovetsky, Gilles.
Os tempos hipermodernos.
Tradução de Mário Vilela. São Paulo: Barcelona, 2004. p. 25.
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