IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 109

(RE) PENSANDO DIREITO
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DOMINAÇÃOMASCULINAEVIOLÊNCIADEGÊNERONOSÉCULOXXI:
alteração na economia das trocas simbólicas seria fundamental, e a
transformação da mulher, na estrutura de mercado desses bens, seria
uma das consequências.
A posição da mulher na economia dos bens simbólicos seria,
portanto, alterada por meio dos movimentos sociais de gênero, com
uma consequente apropriação do discurso sobre a sexualidade pela
mulher, redefinindo a força simbólica de sua atuação no espaço
público. Seja nas relações afetivas, nas quais uma nova cultura
de relacionamentos “líquidos” na sociedade moderna tem sido
presenciada (BAUMAN, 2004), seja no debate político das relações
comunitárias, a intervenção da mulher tem sido significativa na
formação de novos signos de comunicação, em que a mulher não é
vista apenas sob o aspecto da reprodução biológica. Nesse sentido,
toda a polêmica sobre os discursos favoráveis e contrários ao aborto,
ou a utilização da pregação do aborto como propaganda política nos
discursos de emancipação sexual das mulheres, tem seu fundamento
na necessidade de apontar novos canais de comunicação em que
a mulher não é mais vista como objeto, mas como um sujeito que,
produtivamente, assim como os homens, toma escolhas na condução
da humanidade e decide sobre sua própria vida. No momento em que
os homens não conseguem mais recuperar a primazia da dominação
pelo recurso à paternidade, esvazia-se o capital da mulher como
mera progenitora, sendo necessária uma readequação de seu papel
nas trocas sociais, uma vez que sua particularidade biológica (a
capacidade de procriar) não é mais objeto de troca e sim seu papel na
sociedade como ser também sexualizado e que pode, assim como os
homens, utilizar-se da erotização narcísica e da exploração do prazer
como instrumento de contra-dominação.
Se a repressão sexual foi vista historicamente como, sobretudo,
uma repressão de gênero (GIDDENS, 1993), trata-se agora, ao final,
de se questionar o sequestro social da sexualidade que deixou as
mulheres, durante muito tempo, imersas no ambiente doméstico
num prazer diluído pela repressão e que agora saem à luz do dia
reivindicando seu direito à satisfação da libido e a sua libertação
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