IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 108

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Ano 4 • n. 7 • jan/jun. • 2014
FernandoAntôniodaSilvaAlves
quanto a crimes sexuais praticados por pessoas influentes, rendeu
manchetes nos meios de comunicação do mundo inteiro.
Para Bourdieu, o movimento feminista não poderia se contentar
simplesmente com uma tomada de consciência e vontades como
forma de engajar as mulheres na sua luta por emancipação e libertação
do jugo de dominação masculino
55
. Nesse sentido, uma revolução
simbólica seria possível principalmente por meio da construção de uma
nova realidade social que, doravante, levaria a uma transformação
da consciência. O desaparecimento de dominantes e dominados no
esquema de dominação de outrora encontraria eco na modernidade
pelo mesmo emprego da força simbólica que antes existiu no campo
social em que homens e mulheres exibiam capitais diferenciados em
suas relações de gênero.
A revolução simbólica a que o movimento feminista convoca
não pode se reduzir a uma simples conversão das consciências
e das vontades. Pelo fato de o fundamento da violência simbólica
residir não nas consciências mistificadas que bastaria esclarecer
e sim nas disposições modeladas pelas estruturas de dominação
que as produzem, só se pode chegar a uma ruptura da relação de
cumplicidade que as vítimas da dominação simbólica têm com os
dominantes com uma transformação radical das condições sociais de
produção das tendências que levam os dominados a adotar sobre os
dominantes e sobre si mesmos o próprio ponto de vista dos dominantes
(BOURDIEU, 2005).
Como a dominação de gênero se trata de uma construção social,
cabe uma desconstrução ou uma demolição desse edifício sociocultural
onde predomina a dominação, para que, ao constatar anteriormente
que houve um conhecimento da dominação pelos dominados, fosse
produzido um efeito oposto de desconhecimento dessa dominação,
excluindo-se o poder hipnótico da dominação, dissipando aqueles
sentimentos de inquietação, admiração, respeito ou revolta que,
antes, predominavam na consciência dos dominados. Para isso, uma
55 Sobre isso, importante notar que, assim como Marx falava de uma revolução social, por meio do reconhecimento da luta de classes
e pela insurgência dos dominados contra seus dominadores, Bordieu falava de uma “revolução simbólica” no contexto da dominação
masculina, no qual o movimento feminista seria um dos grandes protagonistas desse movimento revolucionário.
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