IESA - (Re)Pensando Direito - Ano 3 Nº 7 - page 223

(RE) PENSANDO DIREITO
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ACOMPREENSÃODATRANSFORMAÇÃODAFAMÍLIA,NATEORIADEHUMBERTOR.MATURANAEOPRINCÍPIODADIGNIDADESOBREOAFETO (AMOR)
migrações. “Não havia pastores, pois não eram proprietários de
rebanhos, era a criação de animais domésticos no lar, conviviam
com essas comunidades em harmonia, até os lobos que também se
alimentavam de carne dos seus rebanhos” (MATURANA, 1993, p. 12).
Porém a cultura do pastoreio surge quando os membros de uma
comunidade que vive seguindo as manadas de animais migratórios
começa a restringir o acesso a ele de outros animais migratórios,
como os lobos. Com essa alteração no emocionar e modificação
cultural, com a criação do pastoreio, surgiu o inimigo, o homem
apreende a operação inconsciente que constitui a apropriação, isto é,
um limite operacional que negou aos lobos o acesso a seu alimento
natural, agindo, assim, de modo sistemático. A segurança em relação
à disponibilidade dos meios de vida começou a ser uma preocupação
devido ao crescimento da manada ou do rebanho sob o cuidado do
pastor, e a caça, que antes era um ato sagrado de alimentação, torna-
se violência. Foi então surgindo “a cultura patriarcal, estamos sempre
pronto a tratar os desacordos como disputa e luta, como se a guerra
fosse a atividade humana mais fundamental” (MATURANA, 1993, p.
15).
A família pastoril se transformou numa família patriarcal devido
à valorização da procriação, e o homem pastor converteu-se em
patriarca, tendo como consequência a explosão demográfica,
humana e animal. Devemos atrever-nos a abandonar o emocionar da
apropriação, valorização da procriação e do crescimento desmedido,
controle, busca de segurança, autoridade, obediência e desvalorização
das emoções e da sexualidade (MATURANA, 2006).
Afirmando o direito senhorial do espírito sobre o corpo, tornou-nos
indiferentes a este e limitou nossa autocompreensão como seres que,
como humanos, existimos de fato no entrelaçamento de emoção e
razão. Esse é o caso da atenção aos desejos e necessidades do outro
que destrói a autoridade (domínio) e cria a amizade (companhia).
“Quando isso ocorre, a obediência é substituída pela cooperação e
a luta se transforma em aceitação e respeito mútuos na coexistência”
(MATURANA, 2006, p. 61).
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