Palavra doMestre
tentar atender realmente às necessi-
dades humanas, a arte é uma solução
eficaz.
Vemos pessoas e até professores de-
fendendo a ideia de que “hoje esses
jovens sabemmais coisas do que nós”,
mas somente o fato de que eles têm
contato com as infindáveis informa-
ções da internet não significa que te-
nham conhecimento suficiente para
fazer uma boa leitura de mundo. Se-
gundo Paulo Freire, importante edu-
cador, pedagogo e filósofo brasileiro,
“é preciso fazer primeiro a leitura de
mundo para depois fazer a leitura da
palavra”. Se o professor não se dedicar
a levar o aluno a uma reflexão sobre o
contexto do mundo em que ele vive, e
também da história de sua sociedade,
ele será um ser solto em um mar de
palavras e conceitos rápidos e cheios
de partidarismos. É preciso instigar a
discussão sobre determinado assunto
para depois analisar as teorias que o
norteiam. O rótulo de detentor do co-
nhecimento, dado ao professor, muitas
vezes impede o dinamismo da apren-
dizagem do discente. É certo que cabe
ao professor adequar as experiências
do discente ao assunto da aula, mas a
utilização de suas contribuições torna
o aprendizado uma experiência signi-
ficativa.
Outro fator importante e presente na
sala de aula que deve ser observado
pelo professor é o preconceito étni-
co. Alguns docentes consideram esse
problema superado, mas tal postura
é ingênua, pois estamos frente a um
mundo visual, mostrado pela televi-
são e pela internet, cujos padrões de
aparência são brancos e a inteligência
é relacionada às pessoas brancas. No
nosso País, onde o preconceito é ve-
lado, o descendente de nativo (índio)
ainda é visto como indolente. Basta
observar a ideia que fazem as pessoas
que viajam até Manaus para prestar o
vestibular da faculdade federal: dizem
ser mais “fácil passar”, pois acham que
os concorrentes da cidade estão em
situação inferior de conhecimento. O
que ocorre é a diferença cultural sobre
o estudo. O adolescente hoje enfrenta
dificuldades, pois na maioria das famí-
lias não há a cultura da cobrança sobre
estudo devido à ausência dos pais em
casa por motivos de trabalho. Existe
ainda o problema social em torno de
uma boa base escolar para se inserir
numa faculdade; esses são fatores que
podem prejudicar alunos de qualquer
parte do País, não somente do Norte,
mas o preconceito ainda relaciona o
caboclo ao marasmo.
A conscientização é um trabalho ár-
duo na escola, de acordo com Hélio
Santos, mestre em filosofia: “A história
narrada nas escolas é branca, a inteli-
gência e a beleza mostradas pela mídia
também o são. Costumamos dizer em
história que o eurocentrismo, do sécu-
lo XVI ao XIX, deu lugar à valorização
exagerada da cultura estadunidense
nos dias de hoje.
Romper com suas raízes para assimilar
totalmente a cultura do outro é o an-
seio de muitos adolescentes. No mês
do folclore, quando lembramos algu-
mas fusões culturais que geraram nos-
sa cultura, muitos jovens se recusam
a fazer parte dessas manifestações
por motivos de rejeição às suas raízes;
eles olham com preconceito para seu
folclore porque não entendem que
se trata de um evento rico em mistu-
ras belíssimas de culturas diversas. Por
exemplo, a quadrilha é uma fusão bra-
sileira com a cultura francesa; o ma-
racatu é a adaptação brasileira de um
costume português, o sebastianismo.
A fusão cultural é extremamente sa-
lutar, pois a cultura é dinâmica, ressig-
nificando-se a cada momento, mas a
apropriação cega de costumes estran-
geiros sem dar oportunidade a uma
fusão de culturas é algo problemático,
não gera a autoestima do indivíduo.
O que estamos vendo são jovens que
não conhecem direito o próprio País,
desejando morar fora do Brasil. Como
poderão ser indivíduos contribuintes e
destacados de sua comunidade se não
as consideram e não a respeitam?
Encerro aqui a discussão, esperando
que ela contribua para a valorização da
singularidade de nossos alunos nas sa-
las de aula de todo o Brasil.
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ANO 04 • Nº 01 • MARÇO DE 2015 •