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ANO 04 • nº 01 • MARÇO de 2015 •
professores, no próprio Colégio e em
outras escolas da cidade. Foi quando
descobri que queria ser professor e
também logo percebi: “uma vez pro-
fessor, sempre professor, vinculado ou
não nos órgãos de ensino”.
Tudo na vida é periódico, íamos muito
bem, quando surgiu a primeira grande
crise – o chefe político local e o nosso
diretor entraram em atrito, e o que era
“flor” passou a “espinho” ao ponto de
o prefeito construir uma nova escola,
com o infeliz intuito de fechar o Ro-
dolfo Ferreira Lima. Foram momentos
constrangedores: professores, alunos
e pais de alunos preocupados com um
possível colapso da nossa unidade es-
colar.
Não havia alternativa; entrar na políti-
ca se fazia mister. E foi assim que, sem
fotografias para expor e utilizando o
velho mimeógrafo do colégio para re-
cados, fiquei na primeira suplência de
vereador (obs.: na época, vereador não
recebia salário), assumindo a cadeira
meses depois – a voluntariedade ven-
ceu outra vez.
Em 1973, entrei no quadro de profes-
sores do Estado de Pernambuco, sem
deixar a CNEC, é claro, quando então
conseguimos um convênio entre o
Colégio e o Estado, revertido em bol-
sas escolares. E aí a retomada foi es-
petacular, muitos pais dormiam no
Colégio na época das matrículas para
não perderem as vagas de seus filhos.
Histórias de Vida
Na ocasião, recebi proposta para diri-
gir a escola de 1º e 2º graus, Jornalista
Jáder de Andrade, pertencente à Rede
Estadual de Ensino, confesso que nem
estudei a proposta, para não deixar
meu cantinho na CNEC.
Com 54 anos na casa, sem medir es-
forços para exercer as mais diversas
funções: professor, instrutor de ban-
da, treinador das mais variadas moda-
lidades esportivas de campo, pista ou
quadra, vice-diretor, diretor, presidente
do setor local ou conselho comunitá-
rio, o leitor poderá indagar: com qual
tempo? Pois é! Ainda hoje, há mais de
meio século, eu só não venho ao Co-
légio na Sexta-feira da Paixão; nos ou-
tros 364 dias, me encontrarão nele.
A escola toda era voluntária. Essa ideia
de “final de semana na escola” já pra-
ticávamos, muito antes dos anos 70,
pois, os sábados e os domingos, ma-
nhã e tarde, eram da comunidade. En-
quanto batia minha bolinha, atraía alu-
nos para a nossa escola.
Em abril de 1969, houve uma enchen-
te em Timbaúba. O diretor da época,
professor Pedro Crescêncio, brilhante
em todos os aspectos, abrigou várias
famílias no Colégio e saía com os alu-
nos fardados, no próprio município e
em cidades vizinhas, angariando do-
nativos para os desalojados. Estávamos
todos imbuídos no espírito comunitá-
rio da CNEC; era como se fôssemos
uma única família de 1.200 irmãos.
Outro mutirão ocorreu por ocasião da
construção da nossa quadra poliespor-
tiva, quando a prefeitura entrou com
o material e os pedreiros, enquanto
nós, professores e alunos, éramos os
serventes. Durante muitos anos, essa
quadra serviu às entidades filantrópicas
e clubes de serviços, comgrandes noi-
tadas esportivas promocionais.
Ocasiões de solidariedade, envolven-
do o corpo docente, foram muitas,
mas vale ressaltar uma: aconteceu que
numa ocasião, nos anos 70, na vivên-
cia demaior crise, o diretor propôs que
assinássemos as folhas de pagamento
de agosto a dezembro, para poder pa-
gar o décimo terceiro salário, obriga-
tório por lei, e as assinamos.
Essas coisas são próprias da educação
dinâmica e humana. Para mim, educa-
ção é um processo de garimpagem,
modelagem e lapidação do ser hu-
mano, contrastando com a educação
mecânica, digital, “internética” e até ci-
bernética, ministrada hoje.
De “Zé ninguém” para Zé da Silva. Ape-
sar de 54 anos como membro da es-
cola de “Felipe dos pobres”, mesmo
que dedicasse em tempo integral o
restante da minha vida a essa grande
obra, não há como pagar o que devo:
título de cidadão, medalhas, diplomas,
troféus e outras honrarias que enalte-
cem e envaidecem qualquer mortal. O
“Cenecismo” é mais que referência e
excelência, para mim é religião.
Fotos históricas de José Ramos
Fotos históricas de José Ramos
Fotos históricas de José Ramos